O Farol Santander Porto Alegre terá, em outubro, um encontro imaginado entre os escritores Clarice Lispector e Nelson Rodrigues, na concepção teatral “Clarice & Nelson – Um recorte biográfico a partir de entrevistas”.
O espetáculo foi criado para trazer à tona debates, falas, ideias em comum e divergências, e o que pensavam os mestres das palavras sobre o ofício de ser artista, o sofrimento para escrever e serem reconhecidos por seus talentos, e como poderiam contribuir com a cultura.
Com texto de Rafael Primot e Franz Keppler, a montagem traz Carol Cezar e Marcos Pitombo nos papéis principais, com direção teatral de Helena Varvaki e Manoel Prazeres. A peça ficará em cartaz em curtíssima temporada no Grande Hall do Farol Santander Porto Alegre, de 17 a 26 de outubro, com sessões às sextas, sábados e domingos. Os ingressos podem ser adquiridos pela plataforma Sympla.
Na sinopse original idealizada por Primot, Clarice Lispector e Nelson Rodrigues têm um encontro fictício no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em meados de 1949, quando ainda eram dois jovens nomes da literatura brasileira.
Esse encontro não aconteceu, mas a peça cria essas conversas a partir dos trechos de entrevistas concedidas pelos escritores ao longo da vida. Transpõe esses dois personagens e seus conflitos para os palcos com diálogos fortes e certeiros de críticas e posicionamentos divergentes como eram suas ideias: ele um homem com seus conceitos e julgamentos; ela, com sua audácia de falar sobre sentimentos, o que as mulheres queriam e sonhavam, quebrando paradigmas.
Eles também tinham muito em comum. O jornalismo foi o meio de subsistência e prática cotidiana – ofício que os dois exerceram –, e a literatura, o meio de expressão poética. Nas duas atividades, eles foram firmes em afirmar as suas individualidades diante dos seus contemporâneos.
“Clarice Lispector e Nelson Rodrigues deixaram obras monumentais: no tamanho, na complexidade e na capacidade de estarem sempre nos surpreendendo. Por isso mesmo, é muito prazeroso estar olhando para eles através de lentes que tentam focar nos esforços que os dois precisaram fazer para não sucumbirem às dificuldades que a vida os reservou”, ressaltou o diretor Manoel Prazeres.
O texto do espetáculo usa também como base para desenvolvimento, falas e declarações reais por meio de extensa pesquisa bibliográfica, extraídas de diversas entrevistas ao longo de anos para vários veículos, concedidas pelos autores representados.
“Essa pesquisa dá mais veracidade e força ao contexto da peça, nas palavras que saíram da boca de Clarice e Nelson e que irão continuar repercutindo no palco, nessa obra. Sobre as controvérsias dos personagens e suas personas, revelados em vida, em suas obras, as feridas abertas da hipocrisia reveladas por Nelson e, ao mesmo tempo, com posturas tão sedimentados no patriarcado, a doçura e a audácia de Clarice em revelar os desejos femininos, os conflitos familiares, o ser mulher, tudo mantido para constar a formação de opinião dos dois”. Comentou a diretora Helena Varvaki.
Com um cenário pensado de forma minimalista para receber somente dois atores em cena, a montagem valoriza ainda mais os diálogos criados e as interpretações dos atores Marcos Pitombo e Carol Cezar.