O uso excessivo das redes sociais fez nascer uma expressão para nomear o declínio na capacidade mental ou intelectual associado ao consumo excessivo de conteúdo de mídia de baixa qualidade.
O “Brain rot” (cérebro apodrecido) sugere que a exposição prolongada a conteúdos pouco estimulantes pode resultar em efeitos negativos, como dificuldade de concentração, diminuição da criatividade e redução do pensamento crítico.
Segundo a psicóloga Giovanna Varoni, o uso excessivo das redes sociais tem impactos negativos não só no aprendizado ou exercício profissional.
“O excesso de tempo nas redes sociais e o consumo de conteúdos de baixa qualidade podem comprometer funções cognitivas essenciais, como atenção, memória e tomada de decisão. Esses impactos vão muito além da vida digital e podem ser especialmente perigosos no trânsito”, ressaltou.
O termo “brain rot” ou “cérebro apodrecido”, palavra do ano de 2024 segundo a Universidade de Oxford (Reino Unido), reflete uma preocupação crescente na comunidade científica.
Embora não seja uma condição clinicamente reconhecida, os sintomas associados são alarmantes e variam entre dificuldade de concentração, redução da produtividade, aumento da agitação e quadros de ansiedade e depressão.
Letargia mental
Segundo o Newport Institute, essa condição é caracterizada por uma letargia mental resultante da sobrecarga de informações digitais, levando a um declínio cognitivo e redução da capacidade de atenção.
“Isso não é muito difícil de ser observado. Alguns minutos rolando feed nas redes sociais e já conseguimos perceber uma certa letargia. Os sintomas são agravados com o uso descontrolado das redes, muito comum entre jovens”, comenta a psicóloga.
Pesquisas recentes mostram o impacto do uso descontrolado das redes nas funções executivas. O vício em redes sociais foi associado a uma diminuição nas habilidades de funcionamento executivo, como planejamento e resolução de problemas.
Isso é especialmente problemático para a segurança no trânsito, já que afeta nossa capacidade de reagir a situações externas, aumenta a desatenção e reduz o foco e concentração.
“Na direção, habilidades cognitivas são indispensáveis para identificar perigos, tomar decisões rápidas e garantir a segurança de todos. Um cérebro sobrecarregado pela ‘podridão digital’ pode apresentar lentidão de resposta e distrações, aumentando significativamente os riscos de acidentes.”, comenta Giovanna.
No cenário do trânsito, em que 90% dos acidentes são provocados por fatores humanos, o declínio da saúde mental tem impactos desastrosos.
“Motoristas distraídos tendem a provocar mais acidentes, a exceder os limites de velocidade e até mesmo desrespeitar sinalizações de trânsito. A irritação e o estresse, por outro lado, provocam comportamentos agressivos e imprudentes, aumentando a chances de acidentes mais graves. As pessoas subestimam o efeito da saúde mental na capacidade de dirigir em segurança e esse é um erro que pode custar vidas”, detalha Giovanna.
Sofrimento psicológico
Pesquisas também mostraram que o uso descontrolado das redes sociais está ligado a níveis mais elevados de sofrimento psicológico e redução do bem-estar mental.
Para combater os efeitos negativos do “cérebro apodrecido”, a psicóloga Adalgisa Lopes recomenda limitar o tempo de tela e ser seletivo com o que consome on-line.
“Priorize conteúdos educativos, culturais e inspiradores. Além disso, faça pausas regulares das redes sociais e planeje detox digitais periódicos”, conta.
Giovanna ressalta a importância de equilibrar o tempo on-line com atividades que estimulem a cognição, como leitura, exercícios físicos e interações sociais presenciais.
“Outra dica para reduzir essa dependência é desativar notificações desnecessárias, assim você reduz distrações constantes”, afirma.
Segundo Adalgisa, é imprescindível, para a saúde física e mental, ter boas noites de sono.
“Portanto, evite o uso de dispositivos eletrônicos antes de dormir para garantir um sono reparador. A privação de sono afeta o humor, desregula a produção hormonal e tem implicações gravíssimas no trânsito”, completa Adalgisa.