Em março de 2020, quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou a Covid-19 como uma pandemia, a comunidade médica não poderia prever a extensão do que estava por vir.
Passados cinco anos, entre reflexões sobre erros e acertos, é inegável que há legados inesperados desse período a serem celebrados no combate à outra doença que, segundo a OMS, afeta atualmente aproximadamente 53,5 milhões de pessoas em todo o mundo: o câncer.
“A corrida contra o tempo para combater o coronavírus acelerou inovações que hoje beneficiam milhões de pacientes oncológicos. No momento em que recordamos os cinco anos desde o início da pandemia, fica claro que a medicina emergiu mais forte e mais preparada para enfrentar outros desafios na saúde, incluindo o câncer”, afirma o oncologista Carlos Gil Ferreira.
Para ele, as transformações catalisadas pela Covid-19 continuarão moldando o futuro do tratamento oncológico, oferecendo esperança renovada para milhões de pacientes em todo o mundo.
“A pandemia nos forçou a repensar paradigmas e acelerar processos que, em condições normais, levariam décadas. Hoje, colhemos os frutos dessa revolução científica no tratamento do câncer”, enfatiza.
Revolução do mRNA: da Covid-19 ao câncer
A tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), que ganhou destaque mundial com as vacinas contra Covid-19, emerge agora como uma promissora ferramenta contra o câncer.
“O sucesso das vacinas de mRNA abriu caminho para potencial aplicação em imunoterapias personalizadas contra tumores. Estamos testemunhando resultados preliminares impressionantes em alguns tipos de câncer”, destaca Ferreira.
Telemedicina: quebrando barreiras geográficas
O isolamento social imposto pela pandemia consolidou a telemedicina como ferramenta essencial.
“Descobrimos que muitas consultas de acompanhamento podem ser realizadas remotamente, permitindo que pacientes de áreas distantes mantenham contato regular com seus oncologistas. Isso revolucionou o acesso ao tratamento especializado”, explica o especialista.
Aceleração de pesquisas clínicas
A urgência da pandemia estabeleceu novos padrões para a condução de estudos clínicos. “Aprendemos a realizar pesquisas com mais agilidade, sem comprometer a segurança. Hoje, aplicamos esse conhecimento para acelerar o desenvolvimento de novos tratamentos contra o câncer”, pontua Ferreira.
Monitoramento remoto e tecnologias digitais
A necessidade de acompanhamento à distância impulsionou o desenvolvimento de ferramentas digitais para monitoramento de pacientes.
“Aplicativos e dispositivos vestíveis permitem acompanhar sintomas e efeitos colaterais em tempo real, possibilitando intervenções mais rápidas quando necessário”, ressalta Ferreira.
Colaboração científica global
A pandemia demonstrou o poder da colaboração internacional em pesquisa médica. “Vimos a comunidade científica global unida como nunca antes. Essa cultura de compartilhamento de dados e descobertas permanece, acelerando avanços no tratamento do câncer”, afirma o oncologista.
A experiência com a Covid-19 deixou um legado duradouro para a oncologia. “Embora a pandemia tenha sido um período desafiador, as lições aprendidas e as inovações desenvolvidas continuarão beneficiando pacientes com câncer por muitos anos”, conclui Ferreira.