As internações por infarto em jovem subiram e cardiologistas explicam o motivo

Apesar do cenário preocupante, a boa notícia é que, segundo especialistas, o infarto é uma condição prevenível.

Avatar de Vitor de Arruda Pereira

|

30/06/25

às

14:10

coracao cardiologista

Foto: Envato

O infarto, o que antes parecia ser uma preocupação restrita a pessoas com mais de 50 anos, passou a atingir também os mais jovens no Brasil.

De acordo com o Ministério da Saúde, as internações por infarto em indivíduos com menos de 40 anos subiram de 1,7 casos por 100 mil habitantes, em 2000, para quase cinco casos por 100 mil no Brasil.

Esse aumento de 184% acende um alerta sobre os riscos que o estilo de vida contemporâneo causa ao coração. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, um brasileiro morre a cada dois minutos em decorrência de doenças cardiovasculares.

Entre os principais fatores que explicam esse crescimento dos casos entre os jovens estão o uso indiscriminado de anabolizantes, uma alimentação repleta de ultraprocessados, o sedentarismo e o estresse, além dos já conhecidos fatores de risco cardiovasculares, como hipertensão, colesterol alto, diabetes, tabagismo e histórico familiar.

“O uso de anabolizantes aumenta a pressão arterial, eleva o colesterol ruim (LDL) e reduz o colesterol bom (HDL), o que favorece a formação de placas de gordura nas artérias coronárias, aumentando significativamente o risco de infarto, insuficiência cardíaca, arritmias e até morte súbita”, aponta a cardiologista Even Mol.

A médica ressalta que os casos de jovens com complicações cardíacas associadas ao uso de anabolizantes são cada vez mais frequentes nos consultórios e prontos-socorros.

“Um estudo recente, publicado em uma das revistas médicas mais conceituadas do mundo, mostrou que as pessoas que utilizam esteroides anabolizantes têm três vezes mais risco de infarto e nove vezes mais risco de desenvolver miocardiopatia”, alerta.

Má alimentação é grande fator

O aumento no consumo de alimentos ultraprocessados, como refrigerantes, salgadinhos, doces, embutidos e fast-food, também tem impacto direto na saúde do coração.

“Sabemos que esses alimentos favorecem o aumento do colesterol, o ganho de peso, intensificam processos inflamatórios no organismo e contribuem para a resistência à insulina, que pode levar ao diabetes e, consequentemente, ao infarto”, explica o cardiologista Gustavo Lenci Marques.

“Hoje, já está claro que o padrão alimentar tem tanto peso no risco de infarto quanto os próprios fatores genéticos, especialmente entre os mais jovens”, completa.

Even reforça que a má alimentação, aliada ao sedentarismo e ao estresse, amplifica ainda mais os riscos, inclusive entre jovens.

Prevenção deve começar cedo

Apesar do cenário preocupante, a boa notícia é que, segundo especialistas, o infarto é, em grande parte, uma condição prevenível, desde que os fatores de risco sejam identificados e controlados de forma precoce.

A recomendação da Sociedade Brasileira de Cardiologia é realizar uma avaliação de risco cardiovascular a partir dos 20 anos de idade, mesmo sem sintomas. O check-up cardiológico envolve a análise da história clínica, exame físico e exames laboratoriais.

Quando necessário, também podem ser solicitados exames de imagem, como ecocardiograma, teste ergométrico e tomografia das artérias coronárias. “Para quem não apresenta fatores de risco, o acompanhamento pode ser feito a cada três ou cinco anos. Já para quem tem alguma dessas condições, o acompanhamento deve começar mais cedo e ser mais frequente”, detalha Marques.

Atenção aos sintomas

Embora muitas doenças cardiovasculares sejam silenciosas, Marques explica que alguns sinais devem servir de alerta para a busca por atendimento médico.

Dor no peito — com ou sem irradiação para os braços, costas, pescoço ou mandíbula —, falta de ar, palpitações e cansaço excessivo estão entre os sintomas que podem indicar um infarto iminente.

“Muitos desses fatores são silenciosos, porém, ao identificar e controlar precocemente, complicações graves como infarto, AVC e insuficiência cardíaca podem ser evitadas. Prevenir é sempre melhor do que tratar”, finaliza Marques.

Tópicos