A primeira vez em que o TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade) foi mencionado no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, foi na década de 1980, desde então o número de diagnósticos de pessoas que possuem o transtorno cresceu de forma avassaladora.
Segundo pesquisas, em um período de 20 anos a prevalência do TDAH subiu de 6,1% para 10,2%.
“Os principais sinais do TDAH em crianças e adolescentes são desatenção, inquietude e impulsividade. O transtorno é uma condição crônica caracterizada por um comportamento agitado e impulsivo associado a dificuldades em manter o foco nas atividades. Geralmente sua causa é considerada genética, e a avaliação é feita por meio de testes e questionários”, explica a cientista da mente e terapeuta Wanessa Moreira.
“Agora temos um crescente número de pessoas descobrindo que se incluem no diagnóstico de TDAH tardio, já em fase adulta, principalmente pós-pandemia. Estamos diante de fatos que não são apenas sobre a agitação de uma criança e sua dificuldade de desempenho escolar. Estamos com um número crescente de pessoas vivendo uma urgência ansiosa, impulsiva, que se enquadram nos testes de TDAH, o que abre margem para revermos o que de fato significa esse transtorno e o porquê ele está crescendo tão rápido em adultos”, acrescenta.
O número de pessoas ansiosas no Brasil vem crescendo em uma escala assustadora.
“Eu realmente acredito que a causa central do TDAH é uma dificuldade generalizada em transmitir em palavras e ações aquilo que o pensamento alcança, sem passar por uma comunicação impulsiva que é a base da fala. As palavras geradas pelo mecanismo cerebral de sobrevivência resumem sempre um extremo de irritação, ou sentimento de medo, por alcançar uma velocidade dentro dos pensamentos e não conseguir colocar em prática e ações o que se vê, ou ainda no caso da criança que não consegue informar o que sente, é onde acontece o aumento do estresse e da dopamina, o que alimenta o ciclo de dificuldade de acalmar e transmitir em palavras o que se deseja, aumenta a inquietação e frustração, causando um gasto grande de energia, seguido por grande desânimo e melancolia”, enfatiza Wanessa.
O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade pode estar relacionado a ligações gênicas e familiares, segundo Luiz Augusto Rode, professor titular de psiquiatria da Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
“O TDAH tem um forte componente genético, então não é incomum que o pai leve o filho para a consulta e comece a se identificar com os questionamentos levantados pelo médico. Em torno de 30% das crianças diagnosticadas vão ter um ou ambos os pais com o transtorno”, ressalta.
Diagnósticos
Ainda segundo o psiquiatra, não é correto afirmar que houve aumento de casos de TDAH ao longo dos anos, mas sim, aumento de diagnósticos. “As pessoas que têm TDAH estão sendo mais reconhecidas, mais acolhidas dentro dos serviços de saúde e educacionais. Estamos lidando melhor com rótulos antigos que esse público recebia e acabavam não encontrando diagnóstico e tratamento adequado”, defende Rode.
Wanessa acredita também que faz parte de uma atualização da mente nesse novo tempo, um comportamento manifestado em pessoas que desejam romper padrões, que ousam dar novos passos, diferentes dos padronizados pela sociedade e encontram dificuldade em transmitir tudo aquilo que alcançam dentro da mente por ainda não terem um meio para traduzir essa comunicação que não seja de forma impulsiva.
Segundo a terapeuta, as pessoas que possuem o TDAH podem desenvolver transtorno de ansiedade, transtorno de conduta, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtorno opositivo desafiador (TOD). Quando questionada sobre o risco de uma pessoa com o transtorno cometer suicídio, ela pontua:
“Os pensamentos ameaçadores e as ideações suicidas que a pessoa com TDAH tem, não vem do sintoma da falta de atenção, mas acontece principalmente devido ao excesso de ansiedade, dopamina, cortisol, que aumentam os pensamentos impulsivos, intensificando as ideias de sobrevivência, que é um mecanismo instintivo de proteção do indivíduo quando está sob ameaça. Esses pensamentos têm como base extremos conteúdos de ataque, agressão, ou então de fuga, onde faz a pessoa acreditar que nada vale a pena e ela deve desistir muitas vezes, esses pensamentos rondam e assombram a mente do TDAH que muitas vezes nem entende o porquê isso acontece.”
Atendimento
Quando a pessoa procura ajuda profissional para entender sobre o transtorno, o principal tema é a melancolia, muitas vezes sintomas de depressão e dificuldade de lidar com as situações adversas que a vida muitas vezes proporciona. Qualquer dificuldade, muitas vezes pode representar um grande obstáculo por não ter repertório para lidar com a situação, somado a ansiedade que aumenta a distorção dos fatos, proporcionando uma sensação de estar sempre sem saída.
Uma queixa importante também está relacionada com dificuldade em executar seu potencial na carreira, por estarem sempre inovando muitas vezes têm a sensação de estarem perdidos.
É importante ressaltar que o SUS (Sistema Único de Saúde) disponibiliza atendimento para pessoas em sofrimento psíquico por meio dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). A Atenção Primária à Saúde é a porta de entrada para o cuidado e desempenha papel fundamental na abordagem dos transtornos mentais, principalmente os leves e moderados, não só por sua capilaridade, como também por conhecer a população, o território e os determinantes sociais que interferem nas mudanças comportamentais.
“O emocional da pessoa com o diagnóstico de TDAH tem a facilidade de mudar de estado de espírito com velocidade, devido a alta carga de dopamina. Pode ter oscilação positiva ou negativa de forma rápida e ainda tem grande sensação de solidão, pois fica muito tempo em uma comunicação dentro de sua própria mente, muitas vezes sem conseguir uma troca efetiva com as pessoas ao seu redor”, finaliza Wanessa.