A recente declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticando o uso de adoçantes artificiais em refrigerantes, principalmente na Coca-Cola, parece ter surtido efeito.
Após a provocação, a Coca-Cola anunciou o lançamento de uma nova bebida adoçada com açúcar de cana-de-açúcar, em uma tentativa de reforçar o apelo de naturalidade do produto.
Apesar de parecer uma mudança positiva à primeira vista, a iniciativa tem gerado preocupações entre profissionais da saúde. Para a nutricionista Tatiane do Nascimento Abdias Malvazio, é preciso olhar para esse lançamento com cuidado.
“Como nutricionista, vejo com cautela essa novidade da Coca-Cola adoçada com açúcar de cana. Apesar do apelo de ser um ingrediente considerado mais natural, o açúcar de cana continua sendo açúcar, com os mesmos impactos no organismo quando consumido em excesso: aumento do risco de obesidade, diabetes e outros problemas metabólicos. Essa mudança pode ser uma estratégia de marketing eficaz, criando a sensação de um produto mais saudável, mas na prática não muda o fato de ser um refrigerante com alto teor de açúcar. A mensagem para o consumidor precisa ser clara: natural não é sinônimo de saudável, e o consumo deve continuar sendo moderado”, afirma Tatiane.
A substituição do adoçante por uma versão tradicional do açúcar traz à tona discussões importantes sobre como produtos alimentícios são posicionados no mercado.
Para muitos especialistas, mudanças como essa costumam vir acompanhadas de campanhas que induzem o consumidor a associar o “natural” com o “saudável”, o que nem sempre é verdade.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que o consumo diário de açúcares livres, incluindo o açúcar de cana, não ultrapasse 10% das calorias diárias de um adulto saudável – sendo ideal que fique abaixo dos 5% para benefícios adicionais à saúde.
Segundo a nutricionista, em um copo de refrigerante tradicional, essa quantidade pode ser ultrapassada facilmente. No Brasil, os índices de obesidade e doenças metabólicas vêm aumentando de forma consistente nas últimas décadas.
Cenário
Segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 60% da população adulta está com sobrepeso, e cerca de 10% já são diagnosticados com diabetes tipo 2. A ingestão elevada de bebidas açucaradas é um dos fatores diretamente relacionados a esse cenário.
Para Tatiane, mudanças reais em hábitos alimentares passam por uma abordagem mais ampla do que apenas alterações pontuais na composição de produtos.
“O consumidor precisa estar bem informado, especialmente em tempos de marketing agressivo e rótulos atrativos. É importante que haja políticas públicas de educação alimentar, rotulagem clara e campanhas que incentivem escolhas conscientes no dia a dia”, completa a nutricionista.