Em Santa Catarina, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, destacou a situação crítica na malha ferroviária no Estado.
A necessidade de um novo modelo de concessão para a malha ferroviária da região Sul do Brasil foi o foco de uma reunião técnica realizada na terça-feira (8), em Florianópolis (Santa Catarina), com a presença dos governadores do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, Jorginho Mello.
A reunião sobre a malha ferroviária também reuniu secretários estaduais, técnicos da área de logística e representantes do Paraná e do Mato Grosso do Sul.
“Na audiência, foi debatido o futuro da concessão operada pela empresa Rumo, que controla 7,2 mil quilômetros de trilhos em quatro Estados. No caso do Rio Grande do Sul, a situação é crítica. Dos 3.823 quilômetros originalmente concedidos, apenas 921 estão operacionais após os danos causados pelas enchentes de 2024”, afirmou o governo do Estado.
“A empresa já manifestou interesse em devolver parte da malha ferroviária gaúcha à União, mantendo apenas o trecho entre Rio Grande e Cruz Alta, considerado o mais rentável”, completou.
A proposta de antecipação da renovação da concessão por mais 30 anos, apresentada pela concessionária ao governo federal, é tratada com preocupação pelas equipes estaduais.
“Há o temor de que os valores da devolução onerosa, estimados em até R$ 2,8 bilhões, não sejam reinvestidos na região Sul, mas destinados a outros ativos da empresa em diferentes regiões do país”, ressaltou o governo do Estado.
Para Leite, é essencial garantir que a região Sul tenha protagonismo na definição do novo modelo. Segundo ele, não se trata apenas de defender um modal logístico, mas de impedir a desarticulação de uma infraestrutura estratégica para o desenvolvimento regional.
“A malha ferroviária gaúcha perdeu metade da sua movimentação nos últimos anos e está operando com baixa velocidade, alto custo e pouca integração. Não aceitaremos que essa concessão seja prorrogada sem compromissos concretos de investimento e planejamento. Os recursos da devolução precisam ser aplicados aqui, onde o prejuízo é real e onde há potencial de crescimento”, afirmou o governador.
“O Rio Grande do Sul defende, além da recuperação dos trechos danificados, a modernização da estrutura existente, a retomada de conexões interestaduais e a construção de variantes estratégicas. O objetivo é restabelecer a relevância do modal ferroviário para o transporte de cargas e reduzir o custo logístico para os produtores e indústrias do Estado”, finalizou o governo do Estado.
Turismo
Em fevereiro deste ano, em Brasília, o vice-governador do Rio Grande do Sul, Gabriel Souza, fez a proposta de separar trecho turístico da malha ferroviária concedida à empresa Rumo Logística.
Na reunião, Gabriel reforçou a preocupação do Estado com a linha férrea no Rio Grande do Sul, especialmente após as enchentes de maio de 2024, e apresentou a proposta de retirada do trecho turístico da concessão federal para que seja ofertada a novos investidores.
Um dos trechos afetados pelas cheias é o da Ferrovia do Trigo, entre Guaporé e Muçum, por onde opera o Trem dos Vales, importante atração turística da região.
Governo federal
Na segunda-feira (8), mesmo com problemas internos para resolver, em relação a malha ferroviária, o Brasil e China assinaram um acordo para estudar ferrovia até o Peru.
O projeto é um corredor ferroviário que ligará os oceanos Atlântico e Pacífico. O projeto pretende integrar as ferrovias de Integração Oeste-Leste (Fiol) e Centro-Oeste (Fico) e a Ferrovia Norte-Sul (FNS) ao recém-inaugurado porto de Chancay, no Peru.
A assinatura do memorando ocorreu no Ministério dos Transportes, em Brasília. Segundo o governo federal, os estudos serão conduzidos pela Infra S.A., estatal vinculada ao Ministério dos Transportes, e a China Railway Economic and Planning Research Institute.