Apesar das dúvidas que ainda cercam o consumo de leite, o alimento segue amplamente reconhecido como seguro, nutritivo e recomendado para a maior parte da população, desde que não haja contraindicações clínicas específicas.
Fonte de proteínas de alto valor biológico e de cálcio, além de conter outros minerais e vitaminas D, B2 e B12, o leite desempenha um papel importante no crescimento, na manutenção da saúde óssea e muscular e em diversas funções metabólicas.
Segundo consenso técnico da ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia) e da SBAN (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição), o leite de vaca permanece como um dos alimentos mais relevantes do ponto de vista nutricional. O documento também esclarece equívocos frequentes que levam à sua exclusão desnecessária da alimentação.
“O leite é um alimento completo, acessível e fundamental para a saúde ao longo da vida. Seu consumo deve ser incentivado sempre que não houver contraindicação clínica”, afirma a nutricionista Aline David, mestre e doutora em Ciências pela USP.
A seguir, destacamos cinco pontos essenciais que ajudam a esclarecer dúvidas e orientam o consumo responsável de leite, com base nas evidências científicas mais recentes:
Leite é seguro para a maioria das pessoas
Não há razão técnica para excluir o leite da dieta de pessoas saudáveis. Casos de alergia à proteína do leite de vaca (APLV) e intolerância à lactose são condições específicas, que requerem diagnóstico profissional e não devem ser generalizadas.
Inclusive, a exclusão do leite por autopercepção de intolerância à lactose, que na maioria das vezes não é confirmada por diagnóstico clínico se constitui, sem dúvida, em prejuízo nutricional.
APLV e intolerância à lactose são diferentes
A APLV é uma resposta imunológica às proteínas do leite, e nesses casos é necessária a exclusão total do alimento. Já a intolerância à lactose é decorrente do declínio progressivo e fisiológico da atividade da enzima lactase, podendo causar desconforto digestivo.
No entanto, a maioria dos intolerantes pode consumir pequenas quantidades de leite ou optar por versões sem lactose, conforme orientação profissional.
A APLV é rara e tende a desaparecer na infância
Estima-se que cerca de 5,4% das crianças até 2 anos sejam afetadas pela APLV, mas 87% superam a condição até os 3 anos e 97% até os 15 anos. A exclusão do leite nesses casos deve ser sempre acompanhada por um profissional de saúde e reavaliada periodicamente.
Intolerância à lactose não exige exclusão total
Pacientes diagnosticados com intolerância, geralmente, toleram até 12g de lactose, sem apresentar qualquer sintoma. Um copo de leite (200 ml), por exemplo, que contém cerca de 8 a 10 g de lactose, pode ser bem tolerado.
Além disso, o consumo fracionado de alimentos lácteos, a escolha por laticínios com baixo ou zero teor de lactose ou o uso de enzima lactase são estratégias eficazes.
A orientação profissional é fundamental
A retirada do leite e seus derivados deve ser baseada em avaliação clínica individual. A exclusão indevida pode resultar em deficiências nutricionais importantes, como carência de proteínas, cálcio, vitamina D e vitaminas do complexo B, especialmente em fases críticas da vida, como infância, gestação e envelhecimento.
O leite na alimentação ao longo da vida
O estímulo ao consumo de leite e derivados, pela sua qualidade nutricional, deve ser parte da orientação alimentar em todas as fases da vida.
“Hoje, temos diferentes tipos de leite disponíveis no mercado — integral, semidesnatado, desnatado, sem lactose e até mesmo o tipo A2 —, o que permite adaptar a escolha às necessidades de cada indivíduo e momento da vida. O mais importante é garantir que esse alimento tão completo e acessível esteja presente na alimentação diária, sempre que não houver contraindicações clínicas. Além disso, vale ressaltar que o leite materno deve ser mantido de forma exclusiva até os seis meses e complementado até os dois anos ou mais”, finaliza Aline.