O vice-governador e presidente do Conselho do Plano Rio Grande, Gabriel Souza, apresentou um estudo que destaca o sucateamento das ferrovias no Rio Grande do Sul operada sob concessão federal.
A reunião, realizada nesta quarta-feira (2), no Palácio Piratini, contou com representantes do governo federal e entidades do setor produtivo do Rio Grande do Sul.
O estudo encomendado pelo governo do Estado, por meio da Portos RS, revelou dados alarmantes: uma queda de 50% na quantidade de cargas transportadas pela ferrovia gaúcha desde 2006 e a possibilidade de uma economia de, pelo menos, 22% no custo do frete até Rio Grande, se houver investimentos na revitalização na malha ferroviária.
O estudo também destacou o sucateamento das ferrovias, o baixo aproveitamento para o escoamento de safras e os danos após as enchentes do ano passado, que isolaram as ferrovias gaúchas do restante do país.
“Décadas de concessão sem modernização e investimentos resultaram em locomotivas e trilhos obsoletos. Isso torna o transporte ferroviário pouco atrativo, sendo um dos mais lentos do país, operando a apenas 12 quilômetros por hora”, ressaltou o vice-governador.
Gabriel mencionou as rotas limitadas e a incerteza nos prazos de entrega das mercadorias, especialmente após os estragos das enchentes.
A Rumo Logística detém a concessão do trecho ferroviário da Malha Sul desde 1997 e seu contrato é válido até 2027. “O governo do Estado tem acompanhado o tema e está intensificando a cobrança de ações cruciais que definirão o futuro das ferrovias no Estado”, disse o Piratini.
O vice-governador defende que não se deve esperar até o fim da concessão atual para implementar melhorias e reativar os trechos afetados no Rio Grande do Sul.
“Estamos buscando providências rápidas e soluções para reativar nossas ferrovias, uma vez que, nos últimos anos, perdemos metade da carga transportada pelos trens. Além disso, o custo do frete aumentou devido à maior dependência do transporte rodoviário”, reforçou.
A extensão concedida à concessionária Rumo Malha Sul é de 3.823 quilômetros. Destes, apenas 1.680 quilômetros estavam em operação até o ano passado.
“Após as enchentes, o quadro piorou e somente 921 quilômetros estão operando atualmente. Também ocorreu a interrupção do transporte de líquidos por ferrovia em razão dos danos das enchentes ao trecho que realizava a conexão férrea com o restante do país”, ressaltou o Piratini.
Trecho turístico
A ferrovia também desempenha um papel importante no turismo, como no caso do Vale do Taquari, onde danos causados pelas enchentes afetaram os trens turísticos.
Em fevereiro, o vice-governador sugeriu ao governo federal a separação da malha turística da concessão atual, permitindo que novos investidores realizem reparos necessários. Além disso, há a possibilidade de utilização de um seguro existente para corrigir o trecho danificado.
“É uma concessão da década de 90, completamente desatualizada e ineficiente. Precisamos de uma nova modelagem da concessão a partir de 2027, mas o Rio Grande do Sul não pode esperar até lá. Essa sugestão para separar o turismo ferroviário é fundamental, assim como a necessidade de intervenções rápidas para restabelecer a conexão com o restante do Brasil para o transporte de líquidos como combustíveis”, destacou Gabriel.
O secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro, que participou da reunião remotamente durante a apresentação do estudo, afirmou que o órgão está articulando com a concessionária a devolução do trecho afetado.
“Estamos trabalhando em uma solução que permita o retorno do trem turístico, além de negociar com a Rumo e considerar o projeto como um todo. Entendemos a importância desse trecho ferroviário não apenas para a economia local, mas para todo o Estado”, ressaltou.
Autos de infração
Felipe Ferreira de Ferreira, coordenador regional de Fiscalização Ferroviária da ANTT, também esteve presente e destacou que a ANTT já emitiu mais de 600 autos de infração à concessionária, com mais de 300 relacionados à Malha Sul.
“Sabemos que a ferrovia no Rio Grande do Sul precisa de mais atenção, e isso está sendo cobrado. Há estudos em andamento para redirecionar os trechos ferroviários não utilizados pela empresa”, disse.
